PARABÉNS A UM GRANDE AMIGO
Mário Sérgio Silveira Márquez

Há exatos 20 anos, neste mesmo Jornal do Turfe, eu escrevia um artigo em comemoração ao 50º aniversário de um dos turfistas mais famosos do Brasil: Duilio Berleze. Desde já agradeço ao Rizzon mais uma vez pelo espaço em homenagem a este nosso caro amigo comum.


Duilio Berleze na Expointer com Juliana Mueller (Miss Rio Grande do Sul 2017)

Hoje, quando o conhecido “Duilito Caminador” celebra seu 70º ano de vida, achei adequado repetir a dose, até porque especialmente os mais jovens podem não saber detalhes da vida deste notável personagem do nosso turfe.
O Duilio pode não agradar à todos, o que, convenhamos, é tarefa quase impossível, mas tenho certeza que a esmagadora maioria dos que o conhecem lhe querem bem. São muitos amigos, e não poderei relacioná-los todos, de modo que os poucos que serão lembrados encaixam-se em situações específicas. De toda forma, gostaria de considerar que ao escrever estas linhas estarei de certa forma representando uma razoável porção de turfistas que também tem por ele carinho e estima.
Nascido literalmente dentro do Haras Paraná, que por quase 40 anos foi comandado pelo seu pai, o legendário “homem do cavalo” Heitor Berleze, Duilio além de proprietário e criador, é veterinário e ex-comissário de corridas. Acompanha o turfe nacional desde a mais tenra idade, frequenta habitualmente todos os hipódromos do País, e não apenas os 4 oficiais, mas os interioranos e as canchas retas também. Com sua criação gerando em média 2 ou 3 potros por ano, porém em terras maravilhosas e com seu cuidado artesanal, já revelou cavalos de Grupo 1 no Brasil, no Uruguai e também no Oriente Médio. Se tivesse uma estatística, poderíamos afirmar que seu aproveitamento é fora de série.
Mesmo tendo o Tarumã como sua segunda casa, Duilio já teve uma fase paulista, nos anos 70, quando passava às vezes mais tempo em Cidade Jardim do que em qualquer outro lugar. Também cumpriu uma longa temporada frequentando assiduamente a Gávea, e conhecendo de perto muitas personalidades que, com o tempo e o progresso, hoje são grandes figuras no cenário nacional. 
Nos anos 90, ia muito a Blumenau, especialmente ao Haras do Verde Vale, onde sempre foi recebido magistralmente (agradecimentos devidos à Locatelli, Brito e ao saudoso sr. Carl Heinz Conrad). 
Em especial nos últimos 5 anos, ele passou a vivenciar com grande frequência o Cristal, local que adora e onde possui uma vasta plêiade de amigos. Em Porto Alegre ele teve, segundo suas próprias palavras, uma das maiores emoções de sua longa e vitoriosa vida turfística: a vitória de Ponamariov no Clássico Nestor de Magalhães, na semana do Bento Gonçalves de 2014. Além de derrotar adversários poderosos, na “foto da vitória” estavam presentes nada menos do que 6 ex-presidentes do Jockey Club do Rio Grande do Sul. Como era de se esperar, ele foi às lágrimas!
“Habitué” também nos hipódromos do Norte/Nordeste e nas canchas retas, onde circula anualmente acompanhando os principais leilões e eventos, Duilio é convidado especial da TBS nas visitas anuais de inspeção e selecionamento para o Leilão Internacional. Vai desde a primeira edição a todos os haras, e além de ajudar com seu conhecimento, também diverte o grupo com suas histórias hilárias e passagens pitorescas. Seriam necessárias inúmeras páginas deste JT para citarmos somente uma parte delas...
Também nos últimos anos, notadamente depois que as viagens do Leilão Internacional o tornaram grande amigo de Nicolas Barrenechea, Duilio passou a frequentar amiúde o turfe uruguaio. Várias vezes estivemos juntos em Montevidéu, e ele fez por lá outras grandes amizades com Alberto Plata, Pico Perdomo, Norman Fox, Gustavo e Rosina Rapetti e outros turfistas locais. O homem é figurinha carimbada nos churrascos dos Haras Rapetti e Sin Nombre, onde - aliás como é sua marca registrada - “corre sempre pra recorde”!
Não podemos deixar de lado este aspecto gastronômico, que é uma das facetas mais cômicas - e impressionantes - dele.  Sua fama de bom (ok, excepcional) garfo é conhecida em todo o cone sul. Não, não é exagero: nosso bom amigo argentino Miguel Ezcurra bem o sabe, e sempre cita com encômios a invulgar glutoneria do “Space Fox: pequeno por fora, grande por dentro”...
Mas, brincadeiras à parte, nunca é demais exaltar as qualidades dele.  Duilio é um homem bom, com um coração enorme. Ainda que aqui e ali deixe escapar alguma “bola fora”, fruto no mais das vezes de sinceridade em excesso, ele é capaz de fazer favores mesmo a quem não os merece, é educado e atencioso com todos, está usualmente de bom humor, e, falando especialmente de cavalos, é de longe o maior conhecedor de turfe brasileiro dos anos 50-60-70. Sua memória prodigiosa é capaz de façanhas como o que narrarei a seguir, e que aconteceu comigo há cerca de 8 ou 10 meses:
Eu estava no haras dele, vendo uma égua nossa que lá se encontra como pensionista, e, numa gigantesca pilha de revistas O Coruja, Turfe & Fomento e O Turfista Semanal, apanhava aleatoriamente alguns exemplares antigos, folheando-os, recordando cavalos daquele tempo. Cheguei a certos clássicos do fim dos anos 1960 e início dos 1970, e citei a ele alguns que marcaram minha infância, como Don Cachola, Gajão, Patacho, Negroni, Miatan, Bretona, Dico, Foxville, Nahuel Mapú, Yellow River, Bretonel, e tantos outros. À medida que os citava, Duilio nominava seus pedigrees, seu criador, proprietário, por vezes o treinador também.
Isto não me impressionou tanto, pois como fã deles eu também sabia, como sei, os pedigrees de todos, embora nem imaginasse os avós maternos e as linhas baixas dali pra frente (Duilio seguia citando de cor avós, bisavós, etc...). 
Impressionado, e num tom de desafio, passei a consultar outras revistas destas épocas, só que agora citando animais sem expressão clássica: perdedores, “finalistas” (na época havia idade máxima para os animais pararem de correr), matungos, enfim, qualquer animal sem importância que passasse pelos meus olhos. Pois, pasmem, ele continuou lembrando os pedigrees de quase todos, da grande maioria mencionando a linha materna às vezes até 4 ou 5 gerações, e - incrível! - em vários deles acertando até mesmo DIA E MÊS DE NASCIMENTO!
É por essas e outras que várias vezes os nossos caros amigos Dante Francheschi e Homero Oliva (também saudoso) insistiram junto comigo para que ele escreva um livro. Quem sabe um dia não sai?
Bem, haveria muito mais a ser escrito sobre Duilio Berleze, mas o espaço é curto. Oxalá em 2038 eu e ele ainda estejamos aqui, para escrever a crônica de 90º aniversário daquela que, então, seria certamente a figura com mais anos de turfe em todo o Brasil.
Feliz “cumple”, meu querido amigo Duilio!

 

 
 

© 2020 - Jornal do Turfe Ltda.
Copyright Jornal do Turfe. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal do Turfe.